Educação na primeira infância:
O que realmente os pais deveriam se preocupar?
Segundo Phillipe Aries (1981), o conceito de infância é algo relativamente novo para a sociedade e, uma forma de entendermos essa ideia, é pensarmos que as crianças ficavam com as amas de leite na idade média e só começavam a fazer parte da família aos 7 anos. A partir dai, eram consideradas “mini adultos” que deveriam estar presentes em todos os eventos sociais e ter atribuições como outros de qualquer idade. Aqui estamos nos referindo a primeira infância dos 0 aos 6 anos.
Faz pouco tempo que entendemos que as crianças tem necessidades específicas e questões importantes para o desenvolvimento que podem influenciar no futuro. Mas todo esse universo ainda está um pouco confuso.
Como mãe e educadora, percebo que os pais tem conflitos sobre o que realmente querem na busca de uma escola para seus filhos dessa faixa etária: Quero meu filho bem cuidado e alimentado? Ou quero meu filho explorando o ambiente e fazendo descobertas? Ou entendo a importância de todos esses aspectos juntos?
A dicotomia cuidar e educar fez e ainda faz parte da educação infantil, tanto para os pais, quanto para os professores e gestores.
Como podemos querer que nossos filhos de 3 anos de idade usem tinta em atividades de artes e voltem para casa completamente limpos?
Como podemos querer que nossos filhos corram em diferentes superfícies e testem suas habilidades motoras e damos preferência a escolas que não tem areia no parque e os espação são todos cobertos de borracha? Nós pais precisamos definir quais são as nossas prioridades e as escolas precisam deixar bem claro quais são as suas.
As escolas devem sim cuidar! Principalmente pensando na saúde da criança, os cuidados não podem ser negligenciados. Mas todos nós precisamos entender a importância da primeira infância para o todo o desenvolvimento.
A educação infantil é para exploração e interação. Explorar e interagir com texturas, cores, quantidades, espaços, possibilidades, sons, histórias, diferentes papéis (de arte e sociais), sentimentos, brincadeiras, jogos e tudo que for possível. É através da interação que as crianças se desenvolvem socialmente e biologicamente. (Vygostky, 1989). Os espaços de educação infantil não podem ser somente depósitos de crianças com “bons cuidadores” que servem a necessidade dos pais enquanto estes trabalham. São lugares de aprendizagem e conhecimento!
A mesma preocupação se estende a as atividades extracurriculares oferecidas as crianças dessa faixa etária. As aulas de inglês, por exemplo, tem que ter uma metodologia focada nas necessidades e características da primeira infância. Tem que ter momentos de exploração também, só que conduzidos em inglês. Uma aula pensada para adultos e adolescentes não pode ser aplicada a crianças que ainda não leem e escrevem. O inglês tem que fazer sentido para as crianças. E daí, sim, as aulas de inglês também contribuirão para o desenvolvimento saudável.
Aries Philippe. História Social da Criança e da Família. 2 ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
Heloísa Tambosi é diretora e fundadora da Language in Life. Formada em Letras com especialização em educação infantil e mestrado em ensino de inglês.
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